terça-feira, 13 de setembro de 2011

FELICIDADE

Minha mãe acaba de completar 51 anos. E essa madrugada me parece muito mais longa! Comecei a pensar em nossa história enquanto fazia orações mil tentando resumir em pedidos esse imenso amor que me preenche a vida inteira.
Sabe aquela sensação de que “eu era feliz e não sabia”? Nunca aconteceu comigo! Sabe aquele céu azul cheio de tirinhas brancas de nuvens como se o céu tivesse talhado? Sabe aquela brisa fresca? A lua cheia? Eu noto! Eu noto sempre!
E eu sinto... As primeiras gotinhas do chuveiro na pele cansada do dia ... eu sinto! O cheiro da manhã molhadinha de orvalho (melhor cheiro do mundo)... eu respiro, e respiro fundo!!!
E aqui a lista é grande de tudo que me deixa enamorada: jabuticabeira florida, bossa nova de tardezinha, pés descalço, a batida de pé do flamenco, poesia mansa de Mario Quintana, lavar o cabelo com shampo cheiroso.
Por muito tempo me achei Poliana demais, Alice exagerada, acomodada até, com mania besta de felicidade curtida!
Hoje eu sei que isso tudo é herança e isso tudo me manteve desperta ainda que sempre avoada. Foi ela, minha mãe e meu verdadeiro elo com o mundo, quem me deixou nesse estado de sonho induzido e com isso me manteve viva!
Aos 41 anos minha mãe sofreu um acidente vascular cerebral que acabou a deixando em estado permanente de dependência física e psicológica (nesse ultimo ponto não tão diferente de qualquer ser humano). Um crime! Um absurdo, uma violência, mas acima de tudo um desperdício. Desperdício pro mundo!
Eu aqui quase morro de saudades... Saudades das crises de riso na hora do almoço que acabavam interrompendo nossas refeições a medida que o xixi escorria solto por debaixo da mesa. Saudades das crises existenciais seguidas de choro dramático e deboche da própria cara! Saudades da loucura da faxina aos domingos às dez da noite! Saudades da pureza e do abrandamento como se o mundo fosse feito de amor e como se tudo fosse sempre claro e bom! Saudade do nosso bolo de maconha e nossos delírios com Anne Frank! Saudades dos banhos de chuva, saudades da lasanha suculenta e do pão de queijo borrachudo!
Quase morro é eufemismo da minha parte, a verdade é que já morri um bocado e um pouco. Morri para o natal e para esperança, morri para o final feliz e morri para o eterno. Hoje quase nunca fico triste, não me permito, e isso me dói anestesiado.Vivo o momento por não acreditar no futuro. Sei que isso é duro de se ler mas o caso é que o presente me basta e acaba me completando, o passado me alenta e sou feliz. Não consigo emagrecer e não ligo pra juntar dinheiro, gosto do mundo de mim e dos amigos que conquistei pela vida e é simples assim.
Aprendo todos os dias com minha mãe que é minha razão de vida e não me canso de dizer o quanto ela é exemplo. Mamãe ri o dia todo e nunca se lamuria ou se penaliza, claro que as vezes suspira fundo e exausta e isso me corta um bocado, mas são só hiatos, segundos de um descanso merecido.
Nós passamos um tempo incrível juntas e por esse tempo sou imensamente grata, porque é como se a nós tivessem sidos concedidos acréscimos de um segundo tempo conturbado de vida e temos que aproveitar ao máximo cada minuto dessa união que é mágica! E estamos aproveitando... amamos ouvir musica e chupar picolé de coco.

domingo, 4 de setembro de 2011

Do meu sertão seco



Meus cabelos quebraram, minhas unhas caíram todas e minha pele está opaca... Meus olhos não têm cor nenhuma! Minha boca rachou, meu nariz goteja sangue escuro, minha língua está seca, trincada e minhas mãos são ásperas! Sou só terra, terra seca e vermelha! Terra e silencio, meu elemento sou eu fincada... Sou terra, sal e mais nada!