quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pequeno Deslize














Aqui não!
Se aboleta com outra
Que meu sangue é nordestino
e nem por destino
que vou deixar você se apoderar
assim da minha alma...
Até te emprestei o corpo
mas foi só de deslize
pura reprise!

sábado, 26 de junho de 2010

Passou

Bom era quando me falava da minha pele... Dizia que meu beijo era bem docinho e me fazia carinho enquanto conversávamos horas sobre nosso bem querer! Bom era poder ficar calada ao seu lado enquanto me penteava com pouco cuidado, usando seus dedos tão grandes, meus cabelos por você bagunçados... Mecha por mecha delicadamente desajeitado!
Agora te acho chato! Não sei quando foi que te passei procuração de gestor operacional da minha vida ou controlador de meus passos! Critica minha postura e reclama dos meus métodos, discorda de tudo, mas desde já não te iludo: Não me mudo! Me deixa com meus caminhos que até me divirto com as minhas voltinhas, sozinha ouvindo musica enquanto me guio na cidade...a-von-ta-de! Me deixa perdida que procuro vida em cada beijo, tão sem graça ou sem gosto, que espalho pelos quatro cantos até que um dia, quem sabe : Me encanto! Me deixa aqui com meus erros gramaticais e sejamos radicais quanto essa separação que esse amor não vira mais não!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lágrima

















Quando não se consegue chorar
por fora tudo o que se chora
por dentro:
é isso o sofrimento!



(Van Gogh- Tristeza Gabita)

domingo, 20 de junho de 2010

Análise

Luiz se sentia feliz e era um homem realizado, por suas conquistas, seus dois filhos criados e sua carreira consolidada. Mas não se iludia, sabia que o real motivo de sua felicidade era Marta.
Eram casados há 23 anos e ele ainda se sentia completamente apaixonado por ela... Uma vez um amigo disse num tom triunfante de descoberta, esperando o aval dos homens e a simpatia das mulheres:
- Casamento é um vício ! A gente se acostuma com a presença um do outro e pronto! Deu certo!
Na hora Luiz não disse nada mas não podia concordar, porque não era costume o que sentia, sabia disso porque nunca tinha se acostumado ao ouvir a expressão que lhe causava tanto prazer: “_Sabe a Marta do Luiz...”
E ouvir aquilo com tanta naturalidade era para ele uma satisfação! Uma satisfação quase tão grande quanto acordar depois da esposa, que sempre dormia muito porque tinha muita preguiça de manhã. Mas quando ele conseguia acordar mais tarde que Marta era uma maravilha. Podia sentir minutos antes de abrir seus olhos que os olhos dela estavam por cima dele, e sabia que ela sorria um sorriso sereno. Luiz abria os olhos sentindo aquele cheiro fresco, mas deixava o corpo dormindo; Então ele sorria de volta para a mulher, depois os dois ficavam assim se olhando e imóveis, compartilhando o amor que ainda sentiam um pelo outro.
Feliz estava Luiz com Marta e a vida que levavam juntos, quando ele foi surpreendido com a notícia:
- Acho que quero fazer terapia.
Disse Marta em tom meio distraído enquanto passava perfume para sair.
-Como? Perguntou Luiz ainda estarrecido pela notícia...
- É, amor. Terapia! Que tem demais?
Agora dando os ombros e abotoando os brincos. E depois de um riso debochado emendou:
- Olha só como te conheço! Sabia que ia chiar, até falei pra Bia que...
- Aháaaaaaa!
Interrompeu Luiz como se tivesse feito uma descoberta e agora visivelmente irritado.
- Ahá? Como assim Ahá? Que quer dizer ahá?
- Quer dizer que eu sabia que tinha dedo da Beatriz nisso!
- Nisso o quê? Tá maluco? Nisso de fazer terapia? Devo rir, Luiz? Ta parecendo um pai de adolescente que fica procurando um culpado por ter achado uma camisinha na bolsa da filha...Ridículo!
- Ridícula é você: Mãe de família dando ouvidos a Beatriz... A “dona-não-acredito-em-casamento”! Aliás, se não acredita não devia viver atrás de um coitado para casar de novo! Ah... E nem me lembre do episódio da camisinha da Camila, que pra mim aquela história ainda não desceu!
- Sabe, Luiz, tem horas que sua cabeça dura me assusta... Tô atrasada pra trabalhar! Depois a gente fala sobre isso! Disse Marta enquanto se abaixava para um beijo de despedida.
Luiz segurou nos seus braços, nem refugando o beijo nem se deixando beijar, e como uma última tentativa pediu agora com olhar tenro:
-Ô amor.... Faz terapia não! Tá tudo bem! Não está? Para com isso! Tenho medo de te perder!
Marta, murchando os braços e abrandando a postura ríspida, sentou do lado de Luiz na cama e, meio aturdida, perguntou mais para si própria do que para o esposo:
- Luiz, você acha que vai me perder se eu fizer terapia? Sim, está tudo bem conosco, mas a terapia é para mim e não para o casal.Onde quer chegar com isso?
_ Vê bem amor... A Lúcia e o Eugênio.
_ Que tem os dois?
_ Se separaram por causa de terapia!
_ Nada disso! Ele a destratava! Chamava de cachorra! A terapia não teve nada a ver com a separação dos dois!
- Era tara dele!
- Tara? Chamar ela de cachorra?
- Era! Desde os tempos de faculdade. Falava empolgado – to com saudades daquela cachorra!- Era uma graça, a gente morria de rir do Geninho todo apaixonado.
- E ainda falava na frente dos amigos? Não acredito nisso.
- Ele sempre a chamou de cachorra. Passaram quinze anos bem ! Ele tendo uma cachorra e ela gostando de ser uma. Aí vem um terapeuta e diz que ser cachorra é falta de respeito e é errado... Não da para entender as mulheres! Deviam assumir seu lado cachorra com mais orgulho!
- Não é culpa do terapeuta!
- Ok! Talvez não seja culpa integral, mas tem que se fazer terapia para fazer terapia... Não estamos preparados para encarar nossa realidade!
- Tá maluco Luiz!
- Olha a Vidinha e o Valter...
- Ah não! Não defende o Valter ! Ele não gostava de banho! Me diz como é que se fica com uma pessoa que não toma banho?
- Pergunta pra Vidinha, que ficou oito anos com ele, fora uns três ou quatro que passaram juntos namorando. O cara não parou de tomar banho de uma hora para outra, né Marta? Pensa bem!
- Uma hora a pessoa se cansa! É isso! E eles namoraram dois anos, seu exagerado!
- Não sei! O que eu sei é que uma hora vem um terapeuta que nunca acompanhou o casal em suas vidas sujas e felizes e condena a pobre da Vidinha a limpeza e a solidão eterna!
- Você é um bobo!
- Amor, contra os fatos não há argumentação!
- Luiz, me ouve bem: EU TE AMO! Não há ninguém desse mundo que possa me convencer do contrário a não ser você mesmo. Entende isso? Confia em mim?
Depois disso Luiz já sabia que era tarde demais. Não havia mais argumentação! No instante em que Marta derramou tanta doçura por cima da discussão ele não poderia fazer mais nada! Beijou a mulher resignado e a deixou seguir para seu corrido dia, dizendo:
- Certo meu bem! Confio em você! Você decide!
Marta saiu contente e no caminho para o trabalho confirmou com a secretária do Dr. Juscelino a consulta pré-agendada para o dia seguinte pela manhã, antes do trabalho.
De tão ansiosa, Marta acordou muito mais cedo nesse dia, e ela amava acordar mais cedo que o marido. Porque escovava os dentes e se recolocava toda fresca na cama exalando um perfume cítrico, e estrategicamente soprava um sopro suave nos olhos de Luiz para que ele acordasse sorrindo e a olhasse com amor por alguns instantes. Mas naquele dia ele a olhou mais apaixonado do que era o costume e os olhares foram mais intensos e menos duradouros. Esqueceram-se que não era domingo e se entregaram aos beijos !
Segundos depois o despertador de Marta anunciou frenético a consulta. Em um solavanco ela o calou apressada! Pensou decidida enquanto se encaixava de volta nos braços de Luiz, sentindo seu coração:
- Terapia? Hoje é que não!
**Agradecimento especial ao meu novo e adorável corretor- Valdir Rezende

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Personagem

De tanto fugir
Do que não quero mais ser
De tanto me esconder
Do inevitável
É que percebi
Não estou mais nos meus planos
Como se uma estranha
Estrelasse todos os meus curtas
Embromasse os meus longas,
Fico a procura do melhor roteiro
Tateando o imperceptível
Procurando falhas
Rastreando sangue
Pedaços de histórias
Pura ficção
Máfia sedutora
Comédia pastelão
E a personagem fica solta
Perambula entre os sonhos
Entre catástrofes
Não faço ideia de quem seja
Aquela menina que fica ali
Zanzando por meus devaneios
Hora sou santa
Hora inocente
Coisa de quem nada sente
Ou tudo mente
Vou fingindo ser
E até vou sendo
Fingida que sou
Fico as margens de tudo
Preconizando um futuro melhor
Menos emocionante

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Suave

Te espero suave
como seda
Bossa nova
Brisa mansa
Suspiro longo
Flor fresca
De orvalho
Te espero suave
Com cheiro de lavanda
De cor marfim
Como o gergelin
Estourando ao toque
Espalhando seus grãos
Nas mãos famintas
E tão Sensíveis
De tua beleza
Tão pura
Só suave...
(Agradecimento a Ivan Bueno pela ajuda e apoio constante aos meus escritos e em especial nesse poema)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vida pré datada...

Bicho fêmea, via de regra, tem mania de se estabelecer prazos... como se estabelecêssemos nossa vida em pequenas metas, em frações de tempo e exaustão!
Até os quinze anos vou arranjar meu primeiro namorado, até os dezoito vou perder a virgindade, aos vinte e cinco me formo, ate os vinte e oito me caso, ate os trinta tenho meu primeiro bebê, até aquela festa emagreço cinco quilos, ate o fim do ano vou entrar naquela calça 38! Chegamos ao cúmulo... até meu aniversário meu cabelo vai crescer até a cintura, daqui a um ano meu namorado vai ganhar melhor e me pedir em casamento, daqui a dois anos meu pai vai se aposentar e vou viver melhor com minha consciência.
Passamos a vida nos torturando com prazos e metas muitas vezes inatingíveis, ou pior, estabelecemos prazos que na verdade não dependem em nada de nós para sua concretização!
Não quero mais viver assim, porque sou carrasca muito severa de mim mesma me cobrando a cada prazo perdido ou meta inatingida! Desviando meus olhos do espelho ou repassando vida a limpo, olhando fotos saudosa de tempo ou melhor de ter tempo.
Se pudesse aconselhar essa menina da foto antiga, de olhos redondinhos, que faz pose inocente errando a altura do vestido, e que mal se aguenta em sua posição desconfortavelmente estática! Eu diria:
- Corre Aline...vai brincar! Esquece a pose, desarruma a postura e o rosto congelado! Brinca com o tempo antes que o traiçoeiro te pegue pelas perninhas grossas! E não se cobre tanto! Não seja inquisidora do seu próprio espírito, que um dia ele se cansa e some! Te abandona! Restará o corpo, o cotidiano, alguma sorte e mais nada...
Finalmente despertei! Vida chega à vista, não se divide e nem chega em prazos estabelecidos e pré datados. Enquanto olhava fotos percebi que um monte de coisas deram mesmo errado, ou ao menos saíram do rumo traçado por mim ou por minhas influências, dificil saber até que ponto. Mas é certo também que um monte de coisas que nem estavam programas deram incrível e inesquecivelmente certas, vivi experiências que me fazem hoje uma mulher sem grandes frustrações e imensamente grata por seus vinte e oito anos até agora muito bem vividos e experimentados.
Me aconselhei, olhei os mesmos olhos redondos e me libertei de mim! E que alívio! A calça 38 vai pro lixo, até porque é feia e fora de moda! Estou pensando em cortar mais o cabelo, vou pagar as contas desse mês e as dos próximos meses ficam para os próximos meses, vou viver minhas paixões sem grandes pretensões de amores e meus amores sem grandes pretensões de paixões!
Claro que ainda estou cheia de expectativas e planos gloriosos para minha vida! Ainda vou economizar para aquela viagem dos meus sonhos e pretendo perder meus quilinhos... Almejo e espero o amanhã otimista que continuo sendo, mas quero viver cada tempo em seu tempo e hoje felizmente é dia de hoje!