domingo, 22 de setembro de 2013

AZUL


Ainda sou eu...
Prova disso é o canto do meu olho direito,
ou meu velho pateta em cima da cama.
Prova é o resto da vida inteira,
o resto das sextas feiras,
ou  as manhãs de domingos...
São as fotografias,
diários empoeirados,
e a vontade de comer pamonha na chuva.
Prova é a Alice no meu mundo.
Quase tudo não mudou,
mas está tudo  diferente.
"ainda estou confuso mas agora é diferente, estou tão tranquilo e tão contente"...
O fato é que fiquei azul, azulinha... 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mentirinha Branca


Depois de meses trocando olhares no elevador, entre bons dias e boas tardes... De tanto puxar assunto sobre o tempo que Frederico finalmente tomou coragem e a convidou para tomar um cafezinho em seu apartamento.
_ Cafezinho eu adoro!
Replicou sorridente a moça que morava no apartamento da frente, já virando o mastro e tomando rumo de outra casa que de estar tão perto e  parecer tão longe  só agora conseguia alcançar.
Frederico tomou a frente e se apressou em contornar a moça, abrindo a porta e se desculpando pela louça. Primeiro perguntou seu nome como se já não o soubesse e ela tímida revelou: Elizabete! Mas pode me chamar de Bete! Ele sorriu pela primeira vez para Bete e depois acomodou sua visita com cuidado na mesinha redonda da cozinha e ali ficou admirando seu feito. Quem dera tão bela loira no meu leito!
_ E o café? É pra hoje?
Brincou Bete delicada como quem já se sente situada. Causando em Frederico uma onda de calor, já que de café nunca gostou, e a muito se esquecera onde pusera seu coador.
_É pra já ! Respondeu sem pestanejar...
Depois de 30 minutos e muito falatório, eis que quase que por  um milagre surgiram dois cafés duvidosos sobre a mesinha .Ele logo advertiu:
_ Não sei se ficou bom, mas pela demora, espero que tenha chegado em boa hora!
Depois de beber um gole pequeno, sob o atento olhar de Frederico, sua convidada tossiu um pouco e quase limpou a garganta, depois levantou os olhos molhados  com admiração:
_ Não acredito! Essa não... Só conheço uma pessoa que toma café assim com tanto pó e sem nenhum torrão de açúcar! Eu! Não é uma muita coincidência?
O anfitrião aliviado suspira feliz dando um gole no seu café, e por um triz não cospe todo líquido, engasgado com sabor amargo na língua.
_Eu sei! Também fiquei emocionada! Nosso encontro já era coisa traçada!
Depois de 06 meses ela se mudou para o apartamento dele. Estavam apaixonados e Bete sempre repetia  aos amigos a história de como um café amargo os unira e que dali pra frente só ele  faria seu café como prova de amor.
Frederico engoliu vinte anos de café como quem engole um remédio necessário e acreditava que era um preço justo a pagar para ficarem juntos.
Até que um dia não suportou e morreu! Num domingo de tardezinha ... Bebendo café, de uma úlcera repentina que já massacrava seu estômago que de tão judiado não percebeu a diferença de doença e resignação. Morreu o pobre! Assim  de mentirinha boba que foi acumulando no meio de sua barriga.