sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Procurando Deus

A moça que faz a limpeza lá em casa, todas as vezes que arruma meu quarto coloca a Bíblia Sagrada no meu criado mudo por cima do meu Mario Quintana, eu leio os poemas do Mario todos os dias da minha vida, e a Bíblia, bom essa eu nunca li de fundo.
Ganhei meu livro sagrado quando fiz minha primeira comunhão em 1994, tenho carinho por ele porque ganhei da minha avó Stela, ela morreu há algum tempo e deve ter ido pro céu ou alguma coisa parecida com isso e disso eu tenho a mais absoluta certeza. Me lembro que quando eu era criança e ia visitá-la lá no interior do Ceará e sempre a assistia colocando uma mesa do lado de fora da casa na hora do nosso almoço pois quem senti-se fome poderia ir até lá e comer o mesmo que nós estávamos comendo, e eu achava isso bonito sem tanto e ainda acho. Minha avó Stela era ainda mais católica do que minha amiga faxineira pelo menos é o que eu acho, porque ela rezava o rosário e dava hóstias para as pessoas durante a missa e isso é coisa de gente bem católica mesmo.
Meu pai, filho da minha avó super católica, sempre que entra no meu carro enrola apressado meu terço (que fica no retrovisor) bem pra cima e bem longe das suas vistas, é que ele é evangélico e para os evangélicos é pecado ter um objeto ou uma imagem religiosa.
Ganhei esse terço de uma colega de trabalho e interpretei como uma forma carinhosa de tentar me proteger de acidentes, assaltos ou do trânsito infernal, com o perdão do trocadilho. Parece que esse terço foi benzido por um padre importante desses que ficam conhecidos fora da comunidade e acabam gravando discos. Eu gosto do terço porque me lembra uma coisa boa e além disso ele é de madeira e tem bem cara mesmo de proteção divina, e eu nunca recuso proteção divina.
Minha mãe sempre fazia o sinal da cruz quando passava por uma igreja ou algum cortejo, acho que isso era mais mania do que religião, porque minha mãe sempre foi meio católica porque frequentava a missa, mas lia um bocado de livros espíritas.
Minha bisa Maria era espírita e seguidora de Allan kardec, isso quer dizer que ela acreditava em reencarnação e em vida após a morte e eu acho justo que ela esteja vivendo em algum lugar porque ela era uma pessoa muito sábia e sempre dizia coisas inteligentes para todo mundo repetir depois. Minha avó Cida puxou essas duas coisas da minha bisa. Pois ela é muito sábia e também é espírita. Um dia, enquanto acompanhávamos um enterro, ela me olhou e me disse bem assim: "tão natural quanto o nascimento é a morte, mas isso não quer dizer que a gente se acostume". Achei essa frase bem inteligente e muito verdadeira eu mesma nunca me acostumei nem com o nascimento nem com a morte.
Meu avô João, casado com minha avó espírita, é ateu. Eu acho que ele não conseguiu acreditar em Deus sendo comunista e lutando contra desigualdade.Quando eu era bem pequena e minha mãe me contou que meu vô era ateu eu fiquei curiosa: 'mãe o que é isso de ser ateu?' minha mãe disse 'é quando uma pessoa não acredita em Deus!' mais curiosa ainda questionei... 'Nãaaaaaaao? E acredita em que então?' e nunca vou me esquecer da resposta da minha mãe - 'Acredita em só em pessoas filha'. Na época me pareceu justo. E hoje me parece uma missão bem difícil.
Não entendo muito de religião ou na verdade nunca consegui me identificar com nenhuma mas já frequentei um bocado de templos. Fui a centros espíritas, centros de umbanda, igrejas evangélicas, pequenas capelas e até grandes catedrais! Geralmente procuramos Deus em algum momento de desespero... Comigo não foi diferente. Em uma busca frenética por respostas a um sofrimento, que hoje vejo, era meu e era inevitável, acabei me lançando sedenta por fé e é claro não obtive conforto algum nessa busca.
Mario Quintana dizia que gente que reza tem pouca fé, porque nosso senhor bem sabe o que reserva para nós. Na minha vida isso reflete algo muito verdadeiro, porque foi quando eu mais rezei e quando eu mais esperei que me senti mais desesperada e tive menos fé na vida e em mim mesma.
Hoje tenho a certeza que Deus habita dentro de mim, faço minhas orações e medido sobre um futuro melhor. Acho que estou mais calma e serena no meu caminho e isso me faz bem e consequentemente aos que me cercam. Não acredito em um destino pronto e moldado, acredito que estamos moldando nosso dia e nosso futuro, brigando por cada sorriso e de certa forma cuidando de cada suspiro que damos ou provocamos nas pessoas. E é importante que cada um tenha a exata noção do quanto uma atitude ou uma palavra influencia na sua vida e na vida de tantos.
Admiro a fé das pessoas, e é muito bom que possamos escolher livremente o que nos salvará do nosso destino certo que é a morte. Porque religião nada mais é do que uma tentativa de apaziguar a morte salvando almas e cuidando do eterno, mas é preciso ver além...
O mundo é enorme e nossa galáxia é ínfima perto de todo um universo, não entendo como as pessoas conseguem acreditar em uma verdade imposta nas paredes de um pequeno templo sem considerar a grandeza dos seres humanos e nem a complexidade dos sentimentos de todas as pessoas que habitam esse planeta, não entendo como em um mundo lotado de possibilidades e expectativas as pessoas consigam se julgar melhores do que outras por entenderem Deus de uma forma diferente. E por fim não entendo e nunca vou entender a intolerância e a arrogância, dois sentimentos tão burros e tão desastrosos em sua vaidade.
Eu no meu minúsculo mundo convivo diariamente com pessoas incríveis com as mais diversas opiniões acerca do planeta que habitam, das pessoas que lhes cercam e do Deus que idolatram. E posso dizer serena e sem medo de ser convertida em outra pessoa : Que bom que é assim! Tomara que nunca se invertam... Ou que nunca se convertam!

4 comentários:

  1. sou avesso a religiões, Aline. São um erro. E acho que Deus pensa o mesmo a respeito.

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  2. Amiga, gostei muito das suas palavras... Quase um Forest Gump conversando kkkkkkkk. Que bom que existe essa diversidade de pensamentos e de crenças Ne, desde que todos se respeitem e que a religião seja usada para trazer o bem. Ainda temos muito a evoluir, mas não perco a esperança. bjos.

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  3. Minha querida poeta inquieta, você sabe bem que sou agnóstico, mas acho que se uma pessoa encontra paz no que quer que seja, merece ouvir de mim um "amém".
    Normalmente quem encontra paz no caminho escolhido, seja religioso, agnóstico ou ateu, não precisa ser intolerante e nem ficar tentando "converter" os demais.
    Se há um deus, é muito maior do que as pessoas pintam. Tão grande que admite até mesmo não ser nada, e talvez seja um enorme nada que forma os vazios que predominam formando tudo.
    Beijo enorme... saudade.

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