segunda-feira, 12 de abril de 2010

Poltrão......

Bartholomeu , ou Barthô, como costumava ser chamado, era um cara tímido e até travado, tinha seus trinta e poucos anos mas apresentava muito mais do que isso, nem tanto pelo aspecto físico, mais pela carranca e sua postura de poucos amigos .
Se formou em matemática e era professor, nunca se casou e acreditava que não tinha talento algum para ser amado... mas o que nunca teve foi coragem para se deixar amar! Não conseguiu ficar com muitas garotas, e apesar de gostar bastante de sexo não tinha muito jeito com as mulheres, claro que algumas se encantavam por seu jeitão introspectivo mas logo eram afugentadas pela carranca que nunca cedia... Na faculdade até duvidaram da sua sexualidade, mas Barthô nunca se incomodou, na verdade ele nunca parecia se incomodar com nada! Era filho único de um funcionário público de quem herdara a carranca e de uma bibliotecária que não gostava muito de livros e por isso passava longas horas em silêncio entediada em seu trabalho e acabou se desacostumando a conversar e na casa de Barthô o silencio era presença ou ausência constante.
Mesmo assim a vida lhe era generosa e Barthô conseguiu construir duas amizades sólidas... O que era uma sorte para um sujeito como ele.
A primeira amiga era uma prima um ano mais velha, que durante a infância acumulou ao seu lado apelidos e exclusões sumárias a todos os grupos de crianças que tentavam se aproximar, costumavam inclusive brincar que se uniram através da dor...Coisa de Lurdinha que sempre teve um quê para o drama...
Lurdinha, ou Maria de Lourdes como era sempre chamada pelos pais decidiu seguir um caminho diferente do primo, se destravou, tratou de se revoltar aos 14 ... assumiu o peso extra que sempre acumulou, pintou os cabelos de vermelho fez uma porrada de piercings, fez linha comunista, virou professora de História e sempre usa regata vermelha ou pastel, bolsinha de crochê e bermuda jeans...
Mas claro que mesmo com tudo isso nunca deixou de se identificar com Bartô e aos 16 anos decidiu ajudar o primo... e deu para ele, ficou com dó do coitado virgem e cheio de espinhas na cara...
Mas avisou logo:
- Seguinte Bartho... Escuta bem...
- Eu te amo cara !
- E é por isso e só por isso que vou te dar hoje!
- Não envolve mais coisa nessa treta .... Deixa o amor puro que a gente tem que é bem mais simples desse jeito...
- Depois vê se tu destrava que é para comer outras mina...
Barthô entendeu bem e até se sentiu aliviado com o esclarecimento, claro que aceitou a oferta de bom grado e agradeceu com o jeito tímido o gesto generoso de sua prima tão desprendida...
Seu outro amigo do peito era Manu, Manuel Eduardo, esse ele conheceu na faculdade, e apesar de saber que sua aproximação era por interesse em seus trabalhos e notas sempre exemplares, Barthô não se incomodou, nunca entendeu da simpatia gratuita que sempre sentira pelo amigo, talvez fosse porque Manu conseguia ser tudo que Barthô sempre quis ser....
Manu era um “vivaldino”... Passava pela vida sem se preocupar com nada, tinha sido criado com uma quantidade enorme de amor por sua avó paterna, que coitada, cheia de culpa tentava suprir a necessidade de um pai que resolveu começar a vida do zero sem poder carregar o filho, pois se casou com uma professora de catequese que de muito religiosa não poderia aceitar um filho fora do casamento... Manu achou compreensivo... Já sua mãe era hippie, aparecia de ano em ano e sempre chorava! Até que um dia desapareceu como fazem os andarilhos e os hippies, Manu também entendeu já que até sentia uma quedinha pelo movimento e não abria mão de fumar um baseado de vez em quando... Manu era um sujeito bonito, moreno claro, de sorriso largo, tinha um frescor constante na voz e no hálito e talvez por isso sempre seduzia todo mundo, inclusive os professores mais severos que logo se rendiam a esse seu jeito canastrão. Manu era um amigo sincero e se preocupava, do seu jeitinho ariano , com o amigo reprimido...
-Meu mano...
- Relaxa!!!
- To seguindo pra uma cachoeira com umas gostosinhas de umas alunas...
- Calma! tudo maior de idade...
- Larga tudo brother... Bora viver!
- Esse trampo te explora demais...
Barthô até se empolgava com os convites mas desde a adolescência não se metia mais aos programas de Manu, era inteligente o suficiente para perceber que não possuía nem de longe o magnetismo nem a lábia do cara que sempre se safava bem de todas enrascadas em que se metia....
E assim seguia vida de Barthô com dois amigos queridos e nenhum sobressalto... Até que um dia Ela entrou na sala de aula...
Vivian, era a nova aluna do terceiro ano, e a ele surgiu como uma aparição, tinha uma beleza rara ... Os olhos bem redondos cor de amêndoas, os traços grosseiros que harmonizavam tão bem ao rosto redondo tornando tudo tão delicado... tinha o pescoço comprido e cabelos curtos cor de mel... Um sorriso inteligente e uma postura desafiadora, trazia sempre um perfume doce e formava um rastro de lírio alaranjado por onde passava, parecia segura, e nunca anotava nada na sala de aula, para desespero do pobre do Professor Bartholomeu, que era encarado por aquela que sem consolo já era sua paixão platônica...
Barthô viveu intensa e solitariamente aquele amor ... sonhava acordado e teve um sobressalto quando de pé estava Vivian, o suposto amor de sua vida, parada em sua frente exclamando:
- Acho que foi destino!
- Como? Perguntou o desajeitado pofessor ao tentar se recompor do susto.
- Isso de eu vir parar na sua aula já no final do ano letivo...
- Porque acha isso Vivian?
- Não vou fazer vestibular, e to de mudança...
O coração de Barthô quase parou....tentava disfarçar enquanto lidava com a triste noticia que o ano estava terminando e que nunca mais iria vê-la...
- Vai para onde?
- Vou tentar ser atriz...
- sei....(desolado)
- Por isso vim te dizer que gosto do jeito que me olha...
- Que eu te olho?
- É! No começo fiquei meio sem graça, mas agora até que me faz falta aquele calorzinho do seu olhar....nada discreto garanto!
- Vivian eu ....
- Não se preocupe... Foi o destino, tenho certeza!
- Tramas da natureza!
- Aqui meu telefone...
-Mas...
E beijando levemente seu rosto Vivian se afastou como uma brisa suave...
Barthô quase não se segurou, cheirou o pedacinho de papel com vontade... e deu um sorriso satisfeito!
Logo depois o pânico...
Não sabia o que fazer! Não queria se comprometer! Ele nunca se comprometia...!!! Ele só vivia... Ou morria enquanto via o tempo passar...
E rasgando o papel suspirou....Destino?... Nesse ele nunca acreditou!!!

7 comentários:

  1. Obrigado pelo comentário no meu blog (Laranja de David Lima).

    Estou aqui lendo suas coisas :)
    Abs!

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  2. David,

    Seja sempre Muuuuuito bem vindo por aqui... Te confesso que seui blog foi uma grata surpresa e todo dia dou uma passada por lá... Tem um humor afiado e exato...

    Beijo Carinhoso!

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  3. Pela Ordem:
    Quem quiser conhecer o blog do David Lima...eu recomento:
    http://desatano.blogspot.com/

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  4. Amiga, gostei muito ... nos prende a atenção. É bem descrito, bem narrado.
    Pode se preparar para escrever um livro ... aposto que será um best seller ... Dúvida?

    Beijossssssssssss

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  5. Ahhh ...
    Adorei também a pintura de Eduard Munch - O Grito - é uma pintura tão expressiva que nunca consigo ficar olhando por muito tempo, me dá uma fobia. Acho que era essa a intensão do pintor, transmitir todo pavor da guerra. Para mim transmitiu com muita eficiência.

    E comparando com Barthô nos faz pensar na revolução interna que acontece dentro dele, pena que não consegue colocar pra fora ... é infeliz por opção.

    Beijossssssssssssssss

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  6. Ahhhhhhh... minha linda tao bom contar com seus olhares aguçados e com tanto incentivo...
    Lembrei qdo vc fazia o curso de história da arte e passava horas me encinando tanta coisa... Sempre tivemos tanta afinidade em gosto e sentimento, é mais do que irmã é minha gêmea, só me faltou a sua suavidade para não ser a gêmea má...kkkkkk...
    Te amo sempre!!!!!!!!!!

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  7. credo miguinha, vc é doce sempre, de má você não tem nada, nem tentanto. E concordo com vc, tenho certeza que somos almas gêmeas mesmo.
    Te amo mais ...
    Mil beijos.

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