segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

PERDA

Tentava digerir tudo com a maior pressa que conseguisse. Mas como era densa aquela verdade...Simplesmente não lhe descia pela garganta! Disfarçou enquanto tentava em vão mastigar o que a vida lhe impôs tão secamente.
É certo que já ouvira falar sobre aquele gosto... Sabia da amargura... Mas a textura era diferente do que imaginara... Parecia uma borracha que crescia na boca.
Era uma borracha dura e impossível de se engolir... Pensou então em vomitar, mas já não podia... teria que consumir tudo sozinha... Era isso que lhe apavorava.
A garganta começou a secar, a voz já falhava, as lágrimas desciam mais pelo esforço de acabar com aquela agonia do que pelo gosto terrível que apesar de amargo acabava salgando tudo... O estômago estava embrulhado, revirado e enojado. Sua pele foi perdendo o visco suava frio, a boca rachou, a mandíbula parecia trincar... Chegou a perder os sentidos tamanho o desespero, mas era mais forte do que pensava e se apoiou nos seus joelhos...
E assim ficou por algum tempo... digerindo, ainda que de boca aberta, aquela perda que decidiu não ceder, não descer, teimava em incomodar e insistia em doer.
Não foi justo perder o que mais tinha de valioso, não só pela doçura, pelo amor ou pelo sons... Perdia a juventude o colo e as delícias de se aventurar inconsequente, de arriscar e de nunca temer o que vinha pela frente... Perdeu seu porto e seu norte e nem foi para morte...perdeu para vida ou para seus embustes...
(Criança geopolítica assistindo ao nascimento do novo homem- Salvador Dali )

7 comentários:

  1. Aline,
    Que texto mais lindo, mais bem escrito, mais visceral. E você descreve algo muito preciso, mas sem revelar exatamente o quê. Mas este quê de que se trata pouco importa diante da beleza do texto, ainda colaborado por Dalí.
    Adorei, acho que é o que mais gostei até agora de todos os seus escritos postados. Você não podia mesmo continuar sem blog.
    Encanta, comove, revolta, e tudo com sutileza.
    Beeeeeeeeeijo.

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  2. ivan obrigada mesmo por sempre me trazer palavras carinhosas de incentivo, e principalmente obrigado pelo prestígio... amo escrever aqui e espero sempre acrescentar...obrigada por isso tbm...
    bem qto ao texto confesso que tive um certo receio de publica-lo porque é mesmo muito denso e traz a tona uma vivência muito íntima...
    sabe o que mais me chamou atenção qdo terminei de escrever... é que não tem minha cara assim meio distante em terceira pessoa... sempre me coloco demais em tudo...tvz tenha sido para manter minha imagem de alegre para mim mesma ou talvez seja simplesmente pelo fato de que a perda não seja uma dor exclusiva minha...o fato é que na verdade estou em cada frase...
    suuuuuper beijo!!

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  3. hum...ivan, quero comentar a imagem...
    desde o começo queria Dalí...pensei naquela do ovo... que tem só a imagem de um ovo derretendo... mas qdo vi esta me enchi de entisiasmo...tinha que ser!
    uma mãe que mostra para uma criança assustada o surgimento de um novo ser...que perde a proteção da casca mas ganha o mundo embora que sangrando...PERFEITO!
    ah... da muito assunto... bora beber?...hehehehe
    + beijo

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  4. Reli, tive que reler. O texto é belo, a realidade é dura, difícil, as imagens são fortes. E, sim, a dor não é exclusividade sua... felizmente e infelizmente. Queria que a dor não fosse de ninguém, mas deus teima comigo e põe a culpa no diabo.
    Li, reli e reli, mergulhei e terminei a leitura chorando, chorando muito.
    Beijo.

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  5. que bom...esse texto meche muito comigo e chorei demais enquanto o escrevia.. se te emocionou é pq entendeu direitinho meu sentimento...fico feliz em dividi-lo com vc..
    + beijo

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  6. Amiga, agora, a noite, reli seu texto e terminei chorando, lembrei de cada momento ... Acho sua cara mesmo, e a Felicidade é sim sua cara também (Graças a Deus né!? por isso você é tão especial ... você sabe transformar a dor, a vida).
    Eu sei da força dos seus joelhos e você sabe que colo não te falta, não é a mesma coisa, eu sei, mas agora que sou mãe será que meu colo melhorou um pouquinho? Pode vir experimentar, viu?
    Você é uma ótima escritora ... olha que esse texto dá uma música ... ala Alceu Valença quando descreve a solidão, com muitas metáforas.
    Te amo muito.
    Beijos.

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  7. amiga boba! esse colo já serviu tanto...e sei que ainda vai servir muito...obrigada!
    te amo sempre....
    hum.. alceu valença... to podendo...hehehehe...só vc mesmo...AMEI!!!!

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